À vésperas do Março Azul, mês de conscientização do câncer colorretal, o Pará, estado da região Norte com maior incidência desse tipo de câncer, recebe ação de prevenção organizada pela ONG Zoé. De 5 a 12 de março, serão 25 médicos voluntários vindos de São Paulo para realizar colonoscopias, o exame que pode prevenir e diagnosticar a doença, além de outros procedimentos.
Voluntários da ONG paulistana Zoé estarão de 5 a 12 de março, no Hospital Municipal de Belterra (HMB), no Pará, em sua 5ª expedição em prol da vida das populações ribeirinhas do rio Tapajós. Dessa vez, o principal foco da ação está relacionado ao Março Azul – mês de conscientização sobre o câncer colorretal (intestino grosso e reto). Serão 25 médicos voluntários que atuarão nas especialidades de colonoscopia – relacionada ao câncer colorretal –, além de endoscopia, anestesia e cirurgia. Também participam acadêmicos de medicina e profissionais de enfermagem.
No Brasil, o câncer colorretal é o segundo tumor maligno em incidência na população feminina e masculina, excluindo o câncer de pele não melanoma, atrás apenas, respectivamente, dos cânceres de próstata e mama. São 41 mil novos casos previstos para 2022, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Na região Norte do País, o Pará é o que apresenta maior incidência de câncer colorretal, com 560 novos casos previstos para este ano, número bem superior aos demais estados: Acre, 50 novos casos; Amapá, 20; Amazonas, 210; Rondônia, 130; Roraima, 30; Tocantins, 170.
Os números corroboram o cenário revelado pelo estudo de rastreamento de câncer colorretal liderado pelo médico cirurgião e colonoscopista Marcelo Averbach, um dos fundadores da Zoé, entre 2014 e 2017, antes da criação oficial da ONG. Nesse período, foram submetidos ao rastreamento os moradores de Belterra, na faixa etária entre 50 e 70 anos. “O levantamento mostrou incidência elevada de câncer colorretal e de adenomas de alto grau que são lesões que antecedem o câncer”, diz. A atual expedição da Zoé dá continuidade a esse atendimento, com a reavaliação dos pacientes que participaram do estudo e tiveram o diagnóstico de pólipos avançados ou apresentaram sintomas. Depois da avaliação, pacientes que necessitarem de tratamento oncológico serão encaminhados para o Hospital Regional do Baixo Amazonas, em Santarém (PA).
Um câncer evitável
Apesar da alta incidência, o câncer colorretal pode ser evitado. Isso porque a doença tem início com uma lesão pequena e não maligna nas paredes do intestino. O exame de colonoscopia é capaz de identificar as lesões com potencial de malignidade e removê-las, evitando um futuro câncer.
Outra medida importante no combate ao câncer colorretal é a prevenção. Nesse contexto, uma das a recomendações é adotar uma alimentação que inclua o consumo de frutas e hortaliças; evitar o consumo de alimentos processados e de bebidas alcoólicas, refrigerantes e outras bebidas açucaradas. Excesso de carne vermelha e alimentos calóricos e/ou gordurosos também aumentam o risco para a doença, assim como sedentarismo, obesidade e tabagismo. O desenvolvimento de câncer colorretal por fatores de hereditariedade representa entre 5% e 10% dos casos.
A importância da endoscopia
No total, deverão ser atendidos durante a expedição da Zoé cerca de 200 pacientes no HMB. Além de 60 colonoscopias, serão realizadas 100 endoscopias digestivas altas, 20 cirurgias proctológicas e 20 cirurgias de hérnia. “Também vamos atender pacientes que foram submetidos à cirurgia de hérnia e endoscopias na expedição realizada no final do ano passado e que, de acordo com avaliação previamente realizada, necessitam de acompanhamento”, informa o médico cirurgião do aparelho digestivo, Fábio Atuí, um dos fundadores da Zoé.
Marco Aurélio D’Assunção, médico endoscopista e presidente da Zoé, explica que entre os pacientes que serão submetidos ao exame de endoscopia de controle, estão os que foram diagnosticados e tratados de Helicobacter pylori. Essa bactéria é o principal fator de risco para câncer de estômago e o Pará ocupa a liderança na incidência de novos casos dessa doença oncológica, com 860 novos casos previstos para este ano, de acordo com estimativas do Inca. Para os demais estados a estimativa é bem inferior: Acre, 90 casos; Amapá, 80; Amazonas, 380, Rondônia, 120; Roraima, 30; e Tocantins, 100.
Nesse cenário, o exame de endoscopia é muito importante, entre outros fatores, porque, em alguns casos, é possível durante o exame remover cânceres em estágios iniciais ou colher amostras de lesões suspeitas que são encaminhadas para análise (biópsia), com objetivo de confirmar ou não o diagnóstico de doença oncológica.
Tecnologia de ponta
Os pacientes, além da expertise dos médicos que participam da expedição, serão beneficiados pela tecnologia. Entre os recursos que a Zoé leva para Belterra, estão um bisturi elétrico de última geração, um equipamento de endoscopia com recursos de inteligência artificial e instrumental específico para cirurgia proctológica.
Ação tem apoio da Sobed e SBCP
A 5ª expedição da Zoé conta com o apoio da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) e da Sociedade Brasileira de Colocoproctologia (SBCP). Fazem parte da expedição o presidente da Sobed, Ricardo Dib, e o vice-presidente, Herberth Toledo, e o presidente da SBCP, Eduardo de Paula Vieira. A Sobed e a SBCP são sociedades que representam especialidades médicas relacionadas ao câncer colorretal e, assim como a Zoé, estão engajadas no movimento de conscientização sobre essa doença oncológica.
“O Março Azul é um alerta nacional para mobilizar os profissionais de saúde e a população brasileira sobre a importância do diagnóstico precoce no combate ao câncer colorretal. E estamos confiantes de que essa força-tarefa será um sucesso”, destacou o presidente da Sobed. “Ações como essa da qual participaremos em Belterra são de extrema importância para que populações remotas tenham acesso a exames essenciais no diagnóstico e prevenção de doenças como o câncer colorretal“, complementou o presidente da SBCP.